Vídeo "Diferentes Infâncias"

DIFERENTES INFÂNCIAS




Trabalho produzido para a disciplina Infâncias de 0 a 10 anos - Profª Drª Susana Rangel. O vídeo apresenta, em linguagem audiovisual, um contraste entre os diferentes tipos de infâncias em diversos lugares do mundo.
By Adri

MÍDIA, IMAGINÁRIO DE CONSUMO E EDUCAÇÃO: A MÍDIA COMO PEDAGOGIA CULTURAL

É importante, inicialmente, ressaltar o quão significativo é a inserção de conteúdos que permitam aos educandos situar-se, não só dentro de suas comunidades, mas também estarem atentos às coisas que acontecem à sua volta e que direta ou indiretamente os afetam. Centrar os alunos no mundo em que vivem sem desvinculá-los de sua realidade é uma tarefa difícil. Uma das vias de acesso que mais facilitam esse processo são as pedagogias culturais. São elas que podem encurtar a distância professor-aluno e proporcionar um bom trabalho em sala de aula, formando cidadãos críticos e com uma visão de mundo ampla e significativa. É preciso efetivar as pedagogias culturais para que estas sejam, não só um mero apoio ao trabalho docente, mas instrumentos cruciais para o sucesso do processo ensino-aprendizagem.
Porém, não se pode falar em pedagogias culturais sem citar o consumismo que a maioria delas nos impõe, sendo a mídia a maior responsável pelo imaginário de consumo. A mídia também tem um papel muito importante quando se fala em educação, tanto dentro quanto fora da escola. Seja qual for o tipo, os meios de comunicação social estão ao alcance de todos, e o professor que sabe tirar proveito disso, proporciona a seus alunos um ambiente rico em troca de informações e saberes.
Manter a distância aparente entre os diversos meios em que a informação visual circula e o ambiente escolar é uma tentativa quase sempre falha, pois a escola, muitas vezes, procura preservar a integridade dos conteúdos disciplinares tradicionais sem confrontá-los com o conhecimento corriqueiro produzido massivamente pelos veículos midiáticos. (GOMES, 2001, p. 195).

O docente deve estar atento, pois a partir do momento que usa a mídia como um dispositivo pedagógico, deve saber filtrar muito bem aquilo que é ou não cabível de trazer para o espaço escolar, e saber lidar com os estereótipos produzidos pelo imaginário do consumo infantil e juvenil. As crianças e os jovens não têm discernimento suficiente para lidar com essas questões e corre-se o risco da proposta perder o foco, e isso prejudica não só o trabalho como também o próprio relacionamento do grupo, pois a questão da aceitação se deve muito ao poder de consumo que cada indivíduo do grupo possui. Em tese, quanto maior o consumismo, maior é a aceitação do sujeito no grupo. Isso se torna muito complicado devido ao fato de termos em nosso meio uma vasta desigualdade social, a sala de aula por si só já é um ambiente bastante heterogêneo.
A televisão e seus artefatos (filmes, comerciais, documentários, etc.) ilustram o conteúdo, despertam o interesse dos educandos e proporcionam ludicidade acerca do conteúdo trabalhado, o que certamente enriquece e amplia o aprendizado. Para ELLSWORTH, “ignorar o poder do endereçamento empobrece os professores.” (2001, p. 44), isto é, não basta apenas se apoderar das pedagogias culturais sem, de fato, saber a quem direcioná-las. É fundamental fazer um bom uso das pedagogias culturais sejam quais forem, sem, contudo, ignorar o imaginário de consumo do meio. O educador que consegue isso tem em suas mãos ferramentas muito úteis para servi-lo, além da sala de aula inclusive, e tornar seu trabalho produtivo e significativo, contribuindo muito para a educação.

As Veias Abertas da América Latina (Eduardo Galeano)

Este livro é um clássico do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano. Publicado em 1970, a obra agrega um registro de quinhentos anos da história latino-americana, em uma visão muito crítica do autor acerca das principais bases sociais, políticas e econômicas do continente.

Nas primeiras linhas do livro, ainda na introdução, o autor parece menosprezar a situação continente, culpando-o pelos sucessivos fracassos. Porém, essa minha perspectiva foi modificada na medida em que aprofundava a leitura. Percebi que a visão trazida por Galeano nada mais é do que um relato minucioso e contundente sobre a colonização da América Latina através de uma colossal barganha por parte do Velho Continente. Ocorreram (in)convenientes escambos, que muito favoreceram portugueses e espanhóis, mas não nossos nativos. Aliás, o escambo ainda é uma prática recorrente na América Latina, porém, utiliza-se de outras denominações e, mesmo lícito, continua injusto.

O fato é que ainda somos para o mundo uma sub-América, como bem define GALEANO (1989, p. 14). Para o autor, as civilizações coagidas e o aniquilamento sofrido pelo território latino-americano através das investidas dos colonizadores ibéricos marcou intensamente o continente; o estilo de colonização imposto por portugueses e espanhóis de fato decretou a atual condição de subdesenvolvimento da América Latina. E como era de se esperar, a situação se manteve inalterada ao longo dos séculos, uma história difícil de ser reescrita.

As veias do continente se abriram muito cedo, ou melhor, foram abertas, garimpadas pelos exploradores, que delas fizeram jorrar além de riquezas naturais, o sangue dos nativos massacrados pelos gananciosos invasores. Ouro e prata não foram suficientes para satisfazer-lhes a cobiça, nem mesmo a cana-de-açúcar ou o café; sempre queriam mais, sempre querem mais.

Para Galeano, a base do sistema colonial na América se constituiu através da escravidão. No Brasil, além da oprimida população indígena, os colonizadores portugueses também buscaram negros na África para servir como mão-de-obra escrava. Com o escravo negro era possível lucrar duplamente: com o comércio humano através da compra e venda de escravos, além do fruto de seu trabalho nas plantações.

Os recortes históricos da obra são essenciais para compreendermos a trajetória percorrida pela América Latina e o porquê dessa constante submissão. Ainda hoje, em minha opinião, essa submissão pode ser lida e compreendida nas entrelinhas, quando Galeano cita a teoria marxista da divisão do trabalho entre operário e patrão; para Marx, no capitalismo sempre há injustiça social, uma vez que o empregado produz mais para seu patrão do que o seu próprio custo para a sociedade. O capitalismo nada mais é do que regime econômico de exploração. É um conceito relativamente novo, mas que definiria bem a relação econômica entre o continente colonizado e o colonizador, desde a descoberta do Novo Mundo.

Enfim, apesar de ter sido publicada há quatro décadas, a obra de Galeano continua atual e traz à tona pareceres ainda muito pertinentes para a economia, a política e a sociedade latino-americana, retratando uma identidade continental bastante enraizada sob seu passado nebuloso.

Particularmente, discordo da profecia de que “nunca seremos afortunados, nunca!” (BOLÍVAR apud GALEANO, 1989, p. 279). Creio que nossas veias continuam expostas, mas, gradualmente, o sangue latino está deixando de alimentar apenas as nações poderosas e está começando a beneficiar seu povo. Este certamente é um processo lento e que tem um longo caminho pela frente; mas acredito, não na igualdade plena entre todas as nações, pois isso seria utopia, mas numa política econômica menos injusta e que possa atender os menos favorecidos, ao menos em suas necessidades básicas.