O mundo da infância sem o brincar

Imaginar um mundo sem brinquedos é difícil para quem teve uma infância tão feliz e cheia deles. A presença dos brinquedos nas diferentes infâncias pode ter variação, mas todos eles propiciam o deleite de ser criança.

A palavra brinquedo costuma nos remeter ao objeto em si, porém, ao consultarmos o dicionário, veremos que este nos dá diversas definições:

1. Objeto fabricado ou improvisado com que as crianças brincam;

2. Brincadeira ou jogo infantil;

3. Pessoa que não se impõe, que se deixa abusar;

4. Situação, ação ou tarefa fácil de levar ou de fazer;

5. Folguedo, divertimento, folia.

Obviamente as definições que nos interessam neste caso são as duas primeiras. A infância e o próprio mundo sem o brinquedo e o brincar, é como passar uma lua-de-mel sozinho: falta um companheiro, um complemento. Segundo Gildo Volpato (2002) a história dos brinquedos também é diversa do que vemos atualmente. Havia certa margem de ambigüidade em torno dos brinquedos, principalmente na sua origem. A maioria deles era compartilhada tanto por adultos quanto por crianças, tanto por meninos quanto por meninas, nas mais diversas situações do cotidiano. Conforme Benjamin (1984), muitos dos mais antigos brinquedos (a bola, o papagaio, o arco, a roda de penas) foram de certa forma impostos às crianças como objetos de culto e somente mais tarde, devido à força de imaginação das crianças, transformados em brinquedos. Com base nestas informações, podemos concluir que a inserção do brinquedo como objeto do brincar na infância é relativamente recente e que ele não foi inventado com este propósito, até porque a própria infância também é uma concepção recente.

Infelizmente hoje em dia os brinquedos deixaram de ser meros instrumentos de diversão, muitos deles viraram artigos de luxo, de status e de poder. Cada vez mais as indústrias têm se preocupado em faturar mais em cima desse mercado infantil onde imperam Barbies, Pollys, Hot Wheels e tantos outros brinquedos que pecam pela falta de criatividade. Aliás, esta é a palavra chave: criatividade. Tinha-se muito mais criatividade antigamente do que brinquedos propriamente ditos. E a partir daí podemos entender porque o conceito de infância nos diz muito sobre o brincar hoje em dia.

Atualmente temos diferentes infâncias em nossa sociedade, mas antigamente esta distinção não era tão descriminada. Há algumas décadas tanto crianças ricas quanto pobres possuíam os mesmos brinquedos e usavam a criatividade e a imaginação para brincar, o brinquedo era um mero instrumento para completar a diversão. Hoje, as diferenças sociais reinam absolutas e podemos perceber claramente a função que exerce o brinquedo em cada camada social. E particularmente, creio que as classes menos favorecidas se sobresaem na arte do brincar. Digo isso pois imagino ser muito chato um brinquedo que não desafie a criança, que não estimule sua imaginação. Isso acontece com as bonecas fabricadas em série e que a cada coleção só mudam a roupa, ou mesmo com os videogames, que só interagem até certo ponto. As crianças que possuem menos recursos e conseqüentemente brinquedos mais simples, lançam mão da criatividade para ir além com a singela bola e criar infinitas possibilidades, inúmeras brincadeiras.

Os brinquedos e os jogos têm uma eficácia imensurável quando se propõem a trabalhar aspectos cognitivos e sócio-afetivos nas crianças. Através do jogo o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa. O jogar é essencial para que a criança manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. É somente sendo criativo que a criança descobre seu próprio eu.

Enfim, ao imaginar um mundo sem brinquedos, imagino também um mundo sem infância e mais do que isso, afirmo que neste mundo não haveria criatividade, não haveria imaginação e tão pouco existiria a magia de ser criança.

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