A IMPORTÂNCIA PEDAGÓGICA DA MÍDIA TELEVISIVA


Em seu livro Televisão e Educação: fruir e pensar a TV, a autora Rosa Maria Bueno Fischer nos leva a refletir sobre o papel da televisão, que na atualidade deixou de ser mero eletrodoméstico para se tornar um meio de comunicação em massa, exercendo uma íntima relação com a produção de modos de subjetivação sócio-culturais. Farei um comentário bastante particular acerca da leitura de Um eletrodoméstico no espaço público, texto esse que compõe o primeiro capítulo do livro mencionado.

Confesso que não sou uma pessoa “televisiva”, gosto de assistir a poucos programas, em sua maioria telejornais ou seriados policiais, mas acho importante usar a televisão como um recurso pedagógico devido a sua abrangência cultural. Desde que estagiei em uma produtora de vídeo, a televisão perdeu um pouco do encantamento; foi como deixar de acreditar no Papai Noel ao ver todos comprando presentes de Natal. Porém, o livro me abriu muitas perspectivas no sentido social e também pedagógico da produção audiovisual. Este texto em especial foi bastante instigador e me fez pensar num contexto muito amplo de televisão, ao qual não nos detemos no cotidiano. O título do primeiro capítulo não poderia ser mais propício: “A TV que vemos e a TV que nos olha”; interpreto essa frase como ponto chave da discussão no referido texto. O que olhamos na TV? Com que olhar? Estamos recebendo as “mensagens” que a televisão nos envia? Que tipo de mensagens são essas? Qual o objetivo dos endereçamentos? Enfim, há uma série de perguntas implícitas na leitura da obra que propiciam reflexões acerca de um amplo e rico conceito de televisão, desconhecido pela maioria. De simples eletrodoméstico, a TV passou a ser um artefato cultural contemporâneo e de abrangência mundial, dotada de um poder imensurável, quase incontestável. FISCHER (2006) afirma que a TV opera como uma espécie de processador daquilo que ocorre no tecido social. Concordo, porém questiono o modo como as pessoas se submetem a este processador, pois noto que a maioria dos telespectadores são leigos, inclusive eu quando se trata de denotar a importância da televisão na subjetivação sócio-cultural. Obviamente é mais comum e eu diria até “normal” sentar-se em frente à televisão e prestar atenção neste recurso audiovisual, visando ao entretenimento, do que analisar e pensar criticamente sobre aquilo que estamos assistindo.

Pensar a TV como um artefato da cultura moderna é muito importante no sentido de que “o que interessa é justamente imaginar possibilidades concretas de análise que dêem conta da TV simultaneamente como linguagem e como fator social.” (FISCHER, 2006, p.17). Particularmente interpreto esta colocação como sendo o principal objetivo da televisão para a autora, utilizando a TV como um instrumento de interação multicultural. Creio que os educadores deveriam fazer uso das pedagogias culturais com um propósito focado justamente nesta colocação da autora, integrando espaço público e espaço escolar. Neste mesmo texto, FISCHER (2006) chama a atenção para o fato de que a presença da TV na vida cotidiana tem importantes repercussões na prática escolar na medida em que os alunos, sejam eles crianças, jovens ou adultos e independentemente da camada social, aprendem modos de ser e estar no mundo nesse espaço de cultura que é a televisão. O distanciamento que alguns professores impõem entre a sala de aula e a realidade dos alunos é lamentável, tendo em vista que é fato a presença massiva da televisão e outros meios de comunicação no cotidiano dos estudantes. É preciso englobar essas pedagogias culturais e se utilizar delas como fontes de apoio ao trabalho docente, certamente se usadas de forma adequada e criativa, contribuirão no processo de ensino-aprendizagem e irão propiciar ao educando uma interação ímpar escola-sociedade.

Enfim, além de uma leitura prazerosa e proveitosa, o livro Televisão e Educação: fruir e pensar a TV proporciona ao seu leitor uma reflexão acerca dos papéis da mídia, em especial a televisão, como (trans)formadora de indivíduos através de uma subjetividade “superficial”. Aliás, penso que a formação sócio-cultural de um sujeito não deveria estar condicionada a este ou aquele elemento (à influência da televisão, por exemplo), mas sim por um conjunto de significados, experiências e vivências que muitas vezes são postas de lado por influências e exigências do meio. Ressalto que a TV exerce um papel mediador no processo de construção e descoberta(s) do indivíduo e certamente o livro, em especial o texto escolhido, possibilitou-me enxergar, a importância deste processo para produção de modos de subjetivação na cultura e suas implicações sócio-culturais.


“Acho a televisão muito, mas muito educativa. Cada vez que alguém a liga, tenho logo vontade de ir para outro cômodo ler um livro.”

Groucho Marx

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